10 coisas que você precisa saber sobre a vacina da dengue aprovada no Brasil
O cenário não é nada bonito. Até a primeira semana de dezembro do ano passado, haviam sido notificadas 1.587.080 infecções por dengue no Brasil em 2015. Não para por aí. Pelos dados reunidos até agora, o ano teve 839 mortes provocadas pela doença. É o maior número de óbitos registrado desde que o vírus voltou ao país, em 1982.
Para tentar conter o avanço da doença, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou na semana passada o uso da primeira vacina contra a dengue, “Dengvaxia”, produzida pelos laboratórios Sanofi Pasteur, com sede em Lyon, na França. Época NEGÓCIOS conversou com Sheila Homsani, diretora médica da empresa, para esclarecer as principais dúvidas sobre o medicamento.
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1. Funciona mesmo? Nos estudos realizados pelo laboratório, a vacina se mostrou capaz de previnir os quatros tipos de dengue que existem no mundo. A eficácia foi de aproximadamente 66% e a redução das hospitalizações, de 80%. Mais: reduziu quadros graves em 93%. “Teríamos menos casos de óbtido, sangramento, choque da dengue”, diz Sheila.
2. Por que é restrita à faixa etária de nove a 45 anos? “Quando fizemos os estudos avaliamos uma faixa etária de nove meses a 60 anos de idade. Observamos que as crianças menores de nove anos não conseguiam ter uma eficácia tão boa. Elas formavam anticorpos, mas não respondiam tão bem à vacina. Então preferimos manter assim, até que avaliemos melhor os pequenos.” No caso do idosos, as vacinas com vírus vivo não são indicadas, em razão também de uma resposta mais baixa.
3. Tem outras contraindicações? Sim. A vacina não pode ser tomada por grávidas, mulheres amamentando, pacientes imunodeprimidos (como HIV positivos), com febre ou alguma doença aguda, além de pessoas alérgicas a componentes da fórmula (o que não é comum, de acordo com o laboratório).
4. Posso pegar dengue por causa da vacina? Apesar de serem vírus vivos, não. Os vírus são muito enfraquecidos, para que não causem a doença. “Fazemos uma recombinação genética, em que tiramos partes do vírus da dengue 1, 2, 3 e 4, colocamos no vírus da vacina da febre amarela. Não é o vírus inteiro. É incapaz de causar a doença.”
5. Só precisa tomar uma vez? Não, são três doses. O intervalo é de seis meses entre cada dose. Até agora, a empresa francesa diz não ter observado a necessidade de reforço.
6. Há quanto tempo vem sendo testada a vacina e onde foi desenvolvida? A Sanofi Pasteur diz ter iniciado os estudos 20 anos atrás. “Nenhuma outra vacina terminou os estudos obrigatórios para submissão para o registro. Para colocar qualquer medicamento no mercado, ele deve passar por várias fases de estudo clínico. Em média, isso leva de 10 a 15 anos.” Os testes ocorreram em 15 países — incluindo Brasil, Estados Unidos e Austrália. Mais de 3,5 mil pessoas no país participaram das pesquisas.
7. Em que países já foi aprovada? O Brasil foi o terceiro país no mundo a aprovar a vacina. Os primeiros foram México e Filipinas. Até o fim do ano passado, o dossiê de registro havia sido submetido a 20 países. Todos, áreas endêmicas — sobretudo na Ásia e América Latina.
8. Previne contra zika e chikungunya? Não. A vacina está ligada à própria dengue e não ao Aedes aegypti. Ou seja, a população ainda fica vulnerável às outras doenças transmitidas pelo mosquito.
9. Por que ainda não está no mercado? Falta a aprovação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) para definição de preços. O governo ainda precisa informar a empresa se incluirá a vacina no sistema público. A capacidade de produção da companhia é de 100 milhões de doses por ano, para o mundo todo.
10. Tomei a vacina. Não preciso mais me preocupar com o mosquito? “A vacina é apenas mais uma ferramenta de combate. A vacina sozinha não vai resolver todos os problemas de dengue. E o mosquito pode transmitir várias doenças, então as pessoas têm de continuar a fazer um trabalho em casa. Se relaxar, vai ter mais zika e chikungunya”, diz Sheila.
FONTE:epocanegocios.globo.com